Quinhentas e poucas palavras

Na avenida um carro ao meu encontro, estou olhando compenetrado parado num ponto de ônibus. As luzes da avenida se apagam e inclino minha cabeça para trás e depois vagarosamente junto ao meu olhar para ambos os lados. Primeiro, direita e em seguida esquerda, observo pessoas concentradas em seus celulares, dispersos por qualquer coisa enquanto fones de ouvidos reproduzem a sinfonia particular de cada indivíduo. Acima de minha cabeça galhos, folhas de uma árvore. Quando criança aprendi com muito medo a subir em árvores que haviam pelo quintal de casa e não era medo por altura e sim, pelo perigo de cair e quebrar algum membro. Sempre tive este receio de pressentir minha queda daquela goiabeira ou abacateiro, via folhas caírem facilmente e da mesma forma eu poderia cair e me transformar em um galho quebrado, destruído. Aprendi que todos nós somos vulneráveis muito antes de saber o significado da palavra “vulnerável. E, entre todas essas vulnerabilidades acho que minha mãe nunca leu nenhum texto escrito por mim e acredito não ser por falta de oportunidade, mas talvez, por eu nunca tê-la convidado a ler. Acho que ela nunca parou para perceber o tanto que converso sozinho e nesta minha “fábrica de pensamentos”, encaro um eu solitário. Contudo, evito escrever palavras tristes, mas desejo deixar minha marca igual aqueles homens que habitavam em cavernas – ser imortal como “Tupac”, “John Lennon” ou “Mario Puzo” – algo realmente mágico. Admiro muitas pessoas, mas não as idolatro. Difícil alguém entender isto ao olhar para porta do meu quarto diante de vários retratos.

Cães caminham com seus donos tranquilamente, seguros e certamente muito mais seguros que os teus próprios donos. Faz um bom tempo que não vejo crianças correndo pela rua descalços e eufóricos, confesso que já não vejo muita coisa por aquilo que me convém. Pois, sou invisível perante a tantos olhares. Olho para o rodapé do editor de texto e a minha ansiedade por escrever algo maior que quinhentas palavras. Desnecessário? Talvez. Caso contrário, mesmo assim já faz anos que não escrevo algo avulso nesta finalidade. Involuntária causa literária essa minha por ser desfavorável de tal compreensão retórica. Engraçado, ver nesta etapa da vida algumas coisas com outros olhos e se eu pudesse deixar um conselho, certamente seria que todos nós desejasse chegar logo aos trinta anos e não os louváveis dezoito. Calma! Respire. Já sei que para vocês a minha opinião tanto faz, tanto fez e não ficarei triste. Prometo. Lá atrás, já havia acostumado a conviver com o desgosto desvairado. Em uma certa manhã, saindo para ir ao trabalho sem muito ânimo para um início de semana, desço as escadas do prédio de quatro andares sem muita pressa, num ritmo descontraído e um pouco desajeitado. Carrego em uma das minhas mãos um dos meus livros, me direciono calmamente ao ponto de ônibus, já na esquina o mercado aberto e pessoas indo correr no parque acompanhado por seus dóceis cães. O semáforo fecha, cruzo a faixa de pedestres, continuo percorrendo até o ponto, abro meu livro e como não uso marcador me esforço para lembrar do número da página em que parei no dia anterior – meu celular toca, fecho o livro novamente para atender a tal ligação, o visor identifica a minha amada, atendo. Entrego-me a sua doce voz ao desejar “bom dia”, juntamente daquele mútuo sentimento ao ouvir:

“Te amo”.

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