Sinto o cheiro de pólvora, vejo janelas enormes e outros prédios em minha volta. Estou sentado em uma cadeira com uma das minhas pernas esticadas.
Percebo que meu corpo está dolorido e ensangüentado, minhas vestes estão sujas e sinto o suor misturado com o sangue sobre o meu rosto. Este andar do prédio está vazio, em reformas, não me lembro como fui trago para este lugar e sim que apenas fui interrogado pelas minhas ações por alguém que eu queria ser, mas que não sou, ou seja, não sei bem.
Estive sendo ou alguém esteve em meu lugar se tornando protagonista de infinitas histórias conturbadoras e revolucionárias, anarquistas. Vivia completamente acompanhado pela insônia e analisando que tudo ao meu redor era descartável – o tempo, lugares em que eu estava e as pessoas que acabava conhecendo, além das vagabundas que dormiam comigo e que me acompanhavam em boates.
Certamente apenas me recordo vagamente que tinha um emprego normal numa corretora de seguros, estava responsável de aprovar ou não que as pessoas tivessem sendo indenizadas – minha vida era uma loucura, gentes de todos os tipos estavam ao meu redor.
Mas enfim, aqui estou eu com uma arma em poder de minhas mãos e agora me recordei que fui autor da destruição do mundo, mas não eu e sim aquilo em que me espelhava. Preparei vários ataques ao governo, mobilizei pessoas e convenci que as mesmas estivessem obedecendo as minhas ordens e que não quebrasse nenhuma regra.
Enfim, foram necessários alguns segundos para eu retornar psicologicamente e perceber o que havia planejado contra o mundo, uma destruição em massa de todos os prédios, a quebra do sistema. Tentei evitar que o autor que me levou a planejar tudo isso continuasse está missão. Então resolvi olhar diretamente para o cano daquele revólver e sem pensar em mais nada apertei o gatilho e a bala saiu pela lateral do meu rosto e despertei para ver que isso não foi necessário para evitar a explosão.
Sinto o cheiro de pólvora sobre o ar e que o meu inimigo interno ainda não está morto…