Caminharei e quem sabe um dia eu encontre um destino certo. Porém, enquanto estou vivo quero sentir o meu coração bater ao relaxar meu corpo sob a cama e perceber o sangue correndo por minhas veias. Quero apreciar o vento e o ar que preenche os meus pulmões, espero ter forças para erguer meus olhos e ver o céu escuro e as nuvens descontroladas. Em verdade, enquanto eu estiver vivo quero apenas caminhar sem destino, já que não posso voar como os pássaros.
Pretendo amar a minha solidão, assim como amo escrever os fiéis sentimentos, as heresias e as loucuras desta humanidade. Quero apreciar o intocável dos meus desejos, as perdições, viver entre um limite. Enquanto eu viver quero apenas escrever o que passa pela minha cabeça sem pedir licença, a desgraça sarcástica, a subvertida face, aplausos para toda a vaidade.
Certamente, o tempo não se encaixa perfeitamente em minhas mãos como um anel de ouro. Os meus bolsos estão vazios, pois é impossível comprar a fé e a redenção, sobretudo, pretendo perdoar os meus próprios erros, reconhecer os meus pecados, guardar-me para o silêncio da minha alma e deitar a minha cabeça sob o teu seio materno.
Eu ainda estou vivo e já tive o primeiro milagre diante dos meus olhos ao nascer com seis meses de formação, porém resta-me abraçar o destino, a morte que virá um dia acompanhado provavelmente de alguma enfermidade.
Me oculto dos rótulos entrelaçados que a vida nos proporciona já que tudo é passageiro nesta terra, mas se você já está pensando que estou considerando-me um derrotado, enganou-se, pois ainda não está nada decretado, aniquilado.
Enquanto eu estiver vivo quero celebrar todas as dádivas que são a mim permitidas, fazer das coisas ao meu redor o melhor modo de se viver no mundo, antes que estes meus estigmas de esperança se tornem a penitência.
Jamais desejamos a morte, mas também não temos o controle total pela vida. Celebraremos a ressurreição dos mortos, já esperamos um dia voltar e ter uma nova vida enquanto gastamos a cada segundo procurando algum sentido para tudo.