Mil novecentos e noventa e quatro. Aos meus dez anos tive a minha primeira fita K7, minha primeira liberdade fonográfica, meu primeiro aparelho de som. Tive também minha segunda revolução antes da adolescência e isto é bem diferente de ser considerado revoltado. Primeiro, fui assim julgado desta forma pela minha família após ter encarado e talvez hoje superado totalmente o meu primeiro drama, aonde depois de anos deparei-me de encontro com a superação.
Naquela época eu escutava diversos rapper’s como: Tupac Shakur, Notorious Big, Scarface, Nas, Eazy-E e Ice Cube, entre muitos do cenário “gringo” americano. Já no Brasil, havia diversos grupos de rap nacional e no momento o que estava em maior destaque era o famoso e conceituado Racionais Mc’s que tinha o poder de falar tudo aquilo que diversos jovens queriam e certamente não só falar, mas sim mostrar para aquela sociedade e mundo que estaríamos lutando por mudanças e igualdade. Eles tinham o talento de impulsionar a minha mente para um novo estilo comportamental perante tudo aquilo que estava vivendo no momento.
Através desses rapper’s e da formar que eles descreviam as suas realidades eu percebi que muitos estavam passando pelo mesmo universo em que eu me encontrava, percebi que muitos deles também não tinham pai presente, viviam em bairros pobres e passavam por diversas dificuldades. Através deles surgiu a minha curiosidade pelos livros, pelas diversas palavras que guardava cautelosamente em minha mente. Com o prazer pela leitura outros caminhos foram surgindo e proporcionando a minha evolução, além disso, o meu amor pela literatura foi e é uma das grandes armas que eu tenho para encarar e superar todos os problemas. Posso dizer claramente que a música e os livros salvaram-me de muitas coisas.
Este tempo passou rapidamente e os bons ensinamentos carrego comigo, alguns rapper’s faleceram jovens demais assim como as fitas K7 que sumiram, gastaram-se antes de serem rebobinadas pela última vez. As mensagens deixadas por estes jovens periféricos ainda continuam sendo eternas na minha e em diversas mentes que viveram ou presenciaram este momento já que no decorrer de toda essa trajetória fonográfica foi mais necessário que eu rebobinasse.
E assim diversifiquei as trilhas sonoras, os caminhos e os atalhos da minha vida. Rebobinei algumas faixas para que a canção tocasse novamente fazendo com que eu relembra-se uns ou outros momentos inesquecíveis. Portanto, irei seguir em frente entre páginas, capítulos, parágrafos e versos para que o meu amor seja imortal, fiel à literatura. Enfim, entre todos os fatos e circunstâncias que possa existir entre nossos destinos confesso que já pensei no meu último suspiro, na despedida, no meu estado fúnebre e na canção marcante que simbolizará essa minha passagem singela por este universo.
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