Ao andar pelas ruas guardo-me em meu mundo, tranco-me por alguns instantes. E aquele ou aquela que olhar para a minha face irá enxergar apenas um homem com uma fisionomia abatida, triste, melancólica. Por fim, serei passageiro, como um devaneio, passarei despercebido.
Sendo assim, não me importo e continuo a caminhar por avenidas tumultuadas, pessoas desesperadas, algumas ostentando o luxo, outras convulsionando a miséria. O mundo certamente não é mais o mesmo, perante os meus olhos não é mais o mesmo de minha infância e vejo que hoje existem outras cores, essências.
Este pensamento jogou-me de encontro com a parede ilusória da realidade, talvez Deus tivesse tocado em meus olhos e vi naquele momento em que eu estava sentado, acomodado dentro de um transporte público e observando o lado de fora antes de retornar a minha atenção para dentro. Pensei rapidamente nas pessoas que vivem destruindo suas vidas por nada, por coisas fúteis, desperdiçando tempo, consumindo o inconsumível em prol de nada – somos tolos.
Já que morreremos e deste mundo nada levaremos, já que morreremos de forma assustadora, outros nem tanto. Quantos de nós já se perguntamos: Será que existe outra vida depois desta? Será que irei retornar?
No meu silêncio apenas recordei do Cristo que nos ofereceram pregado em uma cruz, das catequizações e das violências em nome de Deus – vejo que a morte é uma arte sacra e misteriosa.
Enfim, morreremos sem respostas e de nada serve as nossas experiências para as outras pessoas, pois se isto é um teste, uma provação. Muitos irão se queimar, muitos continuaram perdidos neste labirinto da vida, neste jardim cinzento.
Somos os autores de nossos quadros e pintamos apenas aquilo que enxergamos entre as perdições que vivemos, já digo que feliz é aquele que se aperfeiçoou entre os contrastes da vida ao cultuar-se como a própria arte.
Imagem: (A morte de Sardanapalus, por Delacroix).