Preciso de um cigarro antes de começar a escrever um romance, antes de declarar-me entre algumas palavras. Estou fixamente jogado aos braços da ociosidade aos pensamentos desregulados assim como todas essas pessoas fingindo preocupar-se com algum sentimento ou causa alheia. Quero dar mais um trago, antes que o câncer faça parte do meu prontuário médico e que o diagnostico seja incurável, e aos olhos de meus familiares eu seja apenas mais um inútil, herói, marginal, rebelde, graduado ou um exemplo de vida. Ingênuo em não querer enxergar que o vício é uma doença crônica cuja única explicação é não ter explicação.
Preciso de um cigarro antes de resolver parar de fumar, antes de desejar nunca ter fumado, antes da minha mãe por qualquer sentimento de proteção venha dizer que isso é errado, nojento, algo desnecessário e devo cuidar mais da minha saúde. Eis o livre arbítrio e os seus paradigmas da sociedade, a sociedade hipócrita ansiosa por sempre criticar a julgar nossas vidas, crucificar-nos seja lá por qual motivo for, mas todos nós somos culpados tanto pelo mal quanto para o bem. Afoga-me, esmague meus ossos caso eu esteja errado, prova-me o contrário.
Sendo que morremos quando passamos a entender os motivos e as explicações da vida. Ninguém nos ensinou a fórmula da felicidade, o caminho para o sucesso, apenas nos deixaram em frente à porta e avisaram que dali pra frente era eu, você e mais ninguém – uma prisão interna, a onde a liberdade esteja talvez ligada ou sincronizada ao nosso entendimento sobre responsabilidade. Então, liberta-me com um texto de verdade, com palavras sinceras e não com sensacionalismo barato. Agora me resta olhar o céu e soltar a fumaça que viajou pelos meus pulmões e o oxigênio faltou por alguns segundos fazendo escurecer a minha vista, atrapalhando o meu próximo gesto.
Creio que neste momento vocês não estão entendendo mais nada, provavelmente já devem ter perdido a sintonia deste pensamento. Talvez, este pensamento esteja cansado de ser questionado por si só e mais nada. Meu cigarro chegou ao fim assim como a paciência de vocês, o sentimento que vocês possam ter e deixarei para acender outro quando for escrever ou quando esse instinto psicológico desejar – alimentarei o que deverá ser alimentado até que para toda culpa exista defesa viável.