Passaram-se às doze horas do dia rapidamente e o meu corpo ainda estava necessitando de algo, uma sede que me jogava ao insaciável prazer de tudo e lá estava eu jogado sob a cama exausto como se estivessem morto, meus bons pensamentos já estavam perdidos, confusos e sem nenhum controle do que verdadeiramente seria possível.
Imagens, sonhos, ilusões que se tornaram as maiores certezas, ou se não, as únicas coisas a serem vividas. Recordo-me de um dia turbulento, o seu perfume sob o jogo de cama e o lençol de seda entre as minhas pernas. À noite ou o dia, o sol ou a lua, não vejo mais diferença entre as coisas mais naturais e mútuas que podem nos rodear.
Provavelmente este seria um dia comum, um conto a ser narrado entre um homem e um amor incontrolável, um homem e o seu estado vegetativo. Mas não se engane, não deixe ser enganado, pois isto não é um retrato de meus dias, não é uma biografia. E sim, podemos dizer que se trata de um cotidiano como tantos outros ou não, cada um em uma atmosfera, em um aprendizado no jogo da vida.
Escuto passos descendo as escadas, alguém procurando uma porta, uma saída e que tal a saída de emergência. Confesso que gostaria de encontrar uma para cada momento da vida e estou bem certo disto, sendo que o momento oportuno é agora, mas fui interrompido por outro pensamento, só que desta vez um instinto sensato dizendo para eu começar a explicar a onde estou, e quem é está minha companhia devaneia. Mas, prefiro apresentar-me primeiramente ainda me manter em segredo, e afirmo que estou em meu guardo jogando xadrez com meus pesadelos.
Já no que posso dizer a respeito de amor. Digo que sou o amante. Sim, o amante de uma mulher casada, com dois filhos, com um casamento fracassado, esgotado como o brilho dos seus olhos. Com uma vida cercada de mentiras, amarguras, marcas, cicatrizes que não foram curadas, o coração é uma arma programa e já engatilhada para ser usada sempre que for necessário.
Estou num motel, com cigarro e bebida no criado mudo. Sozinho, já que a minha companheira retornou ao seu palco de exibicionismo e holofotes, ela está bem maquiada produzida para o retorno ao lar, brincar de faz de conta para uma realidade contaminada de ódio, desgosto e porque não, um pouco de frustração ao ter que ver um sonho se tornar o seu pesadelo.
Não me julgue.
Pois ainda não criamos um vinculo, somos apenas corpos jogados ao fogo, aos desejos e aos prazeres carnais. Sou o seu analgésico, o seu brilho, a sua sinfonia quando transamos e escuto no final o seu gemido de satisfeita.
Calma.
Sou apenas o narrador de um breve cotidiano e seus motivos intolerantes.